Pequeno Dicion?rio de Arquétipos de Massa

pequenas ficções e alguma crueldade

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terça-feira, fevereiro 04, 2003
 


A Princesa Prometida

A princesa prometida é uma moça a quem o tempo maltratou como flores, já disse um poeta. Uma moça de vinte e dois anos.
Essa moça passa os dias trancada em seu quarto a sonhar. Em seus sonhos - sempre perfumados com incenso e o doce cheiro de palha queimada de seu cigarro - ela está vestida de nuvens, e corre com os pés descalços sobre a grama verde e úmida de uma manhã de primavera.
Vindo em sua direção, um cavaleiro andante, um homem forte e belo, robusto e trágico, que sorri triste para ela. Ela não o conhece ainda, mas sabe que ele é o homem de sua vida. Sabe que é um homem mais vivido e experiente, e que já sofreu muito, mas é para isso que ela foi criada toda sua vida: para apaziguar o sofrimento do guerreiro, e lhe conceder repouso em seu regaço. E, embevecido pelos seus cuidados, ele cuidará também dela, e lha ensinará tudo o que deve saber. Nem mais, nem menos.
No escuro do quarto, vestida de sonhos, ela ouve obrigada o disco de tango de seu pai. Mas ele não será jamais obrigado a sentir o cheiro doce do cigarro que ela traga fundo. Nem nunca sentirá a doçura dos sonhos que ela tem quando dorme.